segunda-feira, 24 de maio de 2010

René Descartes: a dúvida como método.

René Descartes nasceu em 1596, em La Haye, na região de Touraine, França. Viajou pela Europa em busca da "verdade", pois não a havia encontrado nos seus estudos. Lutou na Guerra dos Trinta Anos. Conheceu a Física de Copérnico. Dedicou-se ao estudo da Filosofia. Esse estudo tinha como objetivo, entre outros, conciliar as novas discussões de seu tempo com as verdades reveladas pelo cristianismo.
Faleceu em 1650, na Corte da rainha Cristina, da Suécia, vítima de pneumonia. Entre os seus escritos mais famosos, destacamos: O discurso do método, Meditações metafísicas e Os princípios da Filosofia.
A filosofia de Descartes segue a mesma proposta de Sócrates e Platão, ou seja, ter a razão como instrumento fundamental de conhecimento. E, assim como Aristóteles, buscou elaborar um sistema filosófico para responder às grandes questões filosóficas. Porém, aqui, restringiremos nossa atenção à forma como Descartes tratou a questão do conhecimento.
Segundo Descartes, se quando sonhamos temos a sensação de que estamos vivendo um mundo real, o que nos garante que o mundo não seja também um sonho? Será que existe um "gênio maligno" (expressão criada pelo próprio Descartes) que me engana o tempo todo? Essa dúvida levantada por ele tinha como finalidade mostrar que para se ter o verdadeiro conhecimento de alguma coisa é necessário que sejam eliminadas todas as dúvidas possíveis a respeito daquilo que se pretende conhecer. Em outras palavras: a dúvida serve como método para o sujeito que pretende conhecer determinado objeto. Entretanto, a dúvida cartesiana não é a mesma dos céticos gregos (o cético pode ser entendido como aquele que não acredita em nada); para Descartes, a dúvida deve ser empreendida enquanto método e por isso a chamamos de "dúvida metódica".
Prossigamos. Se de fato podemos duvidar de tudo, isso já é um fato em si e, se podemos duvidar, isso implica em um outro fato: o que nos permite duvidar? A resposta é simples: duvidamos porque temos a capacidade de pensar! Concluindo, se pensamos é porque existimos. Daí o famoso princípio cartesiano: "Penso, logo existo" (em latim, Cogito, ergo sum. À época de Descartes, os tratados filosóficos e científicos eram escritos em latim, língua oficial da Igreja Católica). A dúvida sistemática me permite encontrar a primeira e inquestionável grande certeza: existo porque sou antes de tudo uma coisa pensante. Dessa maneira, Descartes retoma a importância da razão como fonte primeira do conhecimento verdadeiro. Um ser que pensa tem uma compreensão real. Veja que Descartes tem muita semelhança com Platão, que considerava mais seguro conhecermos através da razão do que com os sentidos. Contudo, a diferença fundamental entre os dois reside na questão do método.
As idéias produzidas pela razão são chamadas por Descartes de idéias claras e distintas. Elas correspondem a verdades inquestionáveis e são inatas, ou seja, já nascemos com elas. Mas de onde vêm essas idéias?
A resposta está na existência ou não de Deus. Descartes preocupou-se com essa questão e, para ele, a existência divina era evidente, visto que, se pensamos em Deus é porque ele existe, já que nada daquilo em que pensamos é inexistente, pois pensar é sinônimo de existir. Mas ainda fica uma pergunta: quem nos deu a capacidade de pensar? Ser alguma coisa que pensa ainda não confere verdade ao corpo ou ao mundo, pois "nada sou senão uma coisa que pensa, isto é, um espírito, um entendimento ou uma razão". E é aqui que entra a idéia de Deus.
Essa idéia não poderia vir da razão (do cogito), pois "eu não teria a idéia de uma substância infinita se ela não tivesse sido colocada em mim por alguma substância que fosse verdadeiramente infinita". Essa substância verdadeiramente infinita, no caso, é Deus. E se Deus me deu a capacidade de pensar, então ele não pode ser o "gênio maligno", ou seja, a idéia da imperfeição ou da inverdade, ou ainda da dúvida. Assim, Descartes defende a existência de Deus e nega a existência do "gênio maligno", dissipando então todas as outras dúvidas, pois a existência real do cogito é assegurada pela existência de Deus. Colocando com outras palavras: Deus existe e é ele que nos dá a capacidade de pensar, com a qual podemos enxergar a verdade do mundo e das coisas que nos cercam, além de nós mesmos. É por meio da razão que encontramos todas as verdades incontestáveis, inclusive a da nossa própria existência corpórea.

A cultura clássica volta a fascinar.

A filosofia ocidental da Idade Moderna, ao mesmo tempo em que rompeu com a fé inabalável como explicação para os fenômenos, também foi além da razão grega, pois a visão que os filósofos modernos passaram a ter não era mais a de um mundo unívoco – como defendiam os gregos –, mas sim de um mundo disperso, múltiplo e relativo. A Terra, por exemplo, não era mais o centro do Universo, como anunciava a teoria geocêntrica desenvolvida na Antigüidade Clássica. O geocentrismo foi substituído pelo heliocentrismo (o Sol como centro do Universo). Foi nesse sentido que os filósofos modernos atuaram: a razão moderna deveria servir para reunificar a idéia de mundo e poder representá-lo com coerência.
O Renascimento Cultural, a partir do século XV, foi o marco inicial da Idade Moderna. E também da filosofia moderna. Esse movimento cultural colocou a razão natural em primeiro plano frente à fé cristã. Precedido pelo Renascimento Comercial e Urbano, que estabeleceu a economia de mercado e os princípios do Estado Moderno, o Renascimento Cultural teve início nas cidades italianas de Florença, Milão e Roma. Nessas comunidades, artistas e letrados em geral se inspiravam na Antigüidade Clássica para produzirem seus feitos. Tal acontecimento permitia que esses intelectuais pensassem com mais liberdade, principalmente em relação à Igreja Católica. Esse pensamento passou para a História com o nome de Humanismo Renascentista. Humanismo, devido à revalorização dos ideais clássicos que preconizavam que "o homem é a medida do próprio homem". Renascentista, porque ressaltava uma característica nova em relação ao humanismo clássico: o individualismo. Lentamente, o teocentrismo (Deus como centro do universo) foi sendo substituído pelo antropocentrismo (o homem como o centro do universo).
Uma das grandes preocupações da Filosofia desse período passou a ser com a questão do método, baseado de ponta a ponta na matemática. O conhecimento deveria pressupor ordem e método rigorosos. A razão, entendida como uma capacidade inerente a cada homem, coloca o filósofo moderno como "sujeito" do conhecimento, enquanto o mundo torna-se o "objeto" do conhecimento. Assim, no final do século XVI, a escolástica cedeu lugar a um conhecimento cada vez mais centrado na figura humana.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Com Tomás de Aquino, a escolástica alcançou seu apogeu.

Sua grande preocupação foi provar a existência de Deus. O simples fato de definir que Deus existe simplesmente por ser perfeito não conseguiria provar a Sua existência real; a definição seria uma idéia e, enquanto tal, nada garantiria sua existência efetiva. Portanto, ele vai além de Santo Agostinho.
Assim como Agostinho se baseou em Platão, Tomás de Aquino se apoiou no pensamento de Aristóteles para elaborar a sua doutrina filosófica.
A presença da filosofia aristotélica nas universidades européias à época de Aquino, ou seja, no século XIII, era muito intensa. Isso se deu por causa de um filósofo de descendência árabe chamado Averróis (1126-1198), que, morando na península Ibérica (área dominada pelos árabes islâmicos), influenciou a Europa Ocidental com os seus estudos sobre a filosofia de Aristóteles, até então meio esquecida na Europa. A bem da verdade, o contato de Tomás de Aquino com a obra de Aristóteles se deu por meio dos escritos de Averróis.
Apoiado no pensamento aristotélico, Aquino conseguiu sintetizar a fé e a razão, pois, segundo ele, não existem contradições entre a filosofia e a fé cristã. Ou seja, somente a fé e a revelação cristã são capazes de atingir as puras verdades espirituais. Mas, juntamente com estas, existem as verdades naturais teológicas, que podem ser obtidas tanto por meio da fé e da revelação como também pela razão e pelos sentidos. Como exemplo de uma verdade natural teológica, tomemos o fato da existência de Deus. Poder-se-ia provar tal afirmação seja pela razão, seja pela fé. Contudo, a última seria mais segura para se obter o conhecimento.
O aristotelismo contribuiu para a construção do pensamento de São Tomás de Aquino principalmente com a teoria das quatro causas, na qual Deus é a causa primeira de todas as coisas e, genericamente, com a sistematização do conhecimento de áreas que não colidissem com a teologia da Igreja.
Para provar a existência de Deus, Aquino sistematizou o problema a partir do mundo sensível, ou seja, do mundo perceptível pelos sentidos. Desenvolveu então as chamadas "cinco vias" que levariam a provar a existência de Deus:

1ª Via: Com os sentidos, apreendemos que o mundo é dotado de movimento, e nada se move por si (segundo Aristóteles). A causa do movimento deve, portanto, ser causada. Para não se chegar à infinitude das causas – o que seria inadmissível – deve haver uma causa primeira e imóvel: Deus.
2ª Via: As coisas são causa ou efeito de outras coisas, e nunca causa e efeito. Presume-se, então, uma causa primeira que não é causada: Deus.
3ª Via: Os sentidos nos mostram que as coisas existem e perecem. Sendo assim, as coisas não necessitam de existência. Logo, a existência precisa de uma causa que tenha a existência como essência: esta causa é Deus.
4ª Via: A hierarquia das coisas relativas depende de um ser que seja medida absoluta e terna da perfeição, pois, se não for assim, não teremos parâmetro para saber o que é mais perfeito. Este ser é Deus.
5ª. Via: A hierarquia das coisas também pressupõe uma Inteligência que conheça e organize o mundo, segundo sua finalidade. Essa Inteligência é Deus.

Conhecendo São Tomás de Aquino.





São Tomás de Aquino está para a escolástica assim como Santo Agostinho está para a patrística. Nasceu no ano de 1225, na cidade de Aquino, situada entre Roma e Nápoles. Ainda na juventude, entrou para a Ordem dos Dominicanos. Estudou em Nápoles, Paris e Colônia e lecionou em Paris e nos Estados Papais. Faleceu no ano de 1274, durante o Concílio de Lyon. Seu principal livro foi Suma Teológica e seu pensamento é conhecido como tomismo.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Santo Agostinho: “compreender para crer, crer para compreender”.

As influências das doutrinas estudadas por Santo Agostinho fizeram-se presentes no seu pensamento. Do maniqueísmo, ficou a atenção sobre o problema do mal, que, em contato com o neoplatonismo, tornou possível afirmar que o mal está para as trevas, assim como o bem está para a luz.
E mais ainda: as trevas seriam a ausência de luz. A luz é a fé em Deus que se manifesta em toda natureza, até mesmo na razão. E como a razão é fruto da luz, deduz-se que a razão é limitada diante da fé. Pois, como afirma Agostinho, tendo como fundamento a teoria dos dois mundos de Platão, se Deus criou o mundo do nada, antes de Ele ter criado o mundo, as idéias já existiam dentro de Sua cabeça. Assim, no lugar do mundo das idéias, a teoria da iluminação de Santo Agostinho coloca o mundo das idéias divinas. O homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas.
O modo como o pensador abordou a relação "razão versus fé" acabou por transformar a razão em uma forma de demonstração da necessidade da fé para o homem. Daí a necessidade de "compreender para crer, crer para compreender", segundo afirma o próprio Agostinho. Não se trata de diminuir a importância da razão, mas sim de afirmá-la enquanto meio para se chegar à fé. Se o "conhecimento da verdade" é fato (por exemplo, a matemática), resta saber o que torna possível tal conhecimento. Ele não pode ter origem no próprio homem, isto é, não pode ter origem apenas na capacidade humana de raciocinar, pois este tipo de conhecimento é perecível e mutável, enquanto a verdade é eterna. Agostinho vê aí uma incompatibilidade. Logo, o conhecimento da verdade só pode estar acima do homem e de todas as coisas; em outras palavras, o conhecimento só pode vir de Deus.
Para Agostinho, o conhecimento humano nos é dado pela presença de Cristo ("Verbo feito carne"; "Verdade interior") em cada um dos homens, possibilitando-nos conhecer a verdade e a certeza, e podendo expressá-las por meio das palavras. Trata-se de uma "verdade revelada".
O pensamento de Santo Agostinho predominou na Igreja Católica durante toda a Alta Idade Média.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Santo Agostinho - O maior expoente da Filosofia Patrística.

Nascido no ano de 354 em Tagaste, região do norte da África, Aurélio Agostinho formou-se em Cartago para professor de retórica. Lecionou em Roma e Milão. foi leitor de Cícero. Comungou o maniqueísmo (doutrina que afirmava ser o mundo dirigido por dois princípios absolutos: o bem e o mal). Superou sua desilusão com o maniqueísmo pelo contato com o neoplatonismo (interpretação espiritualista e mística do pensamento de Platão), sobretudo de Plotino. Contudo, foi a fé cristã o caminho tomado por Agostinho como verdadeiro, e o responsável por este acontecimento foi Santo Ambrósio (340 - 397), bispo de Milão. Influenciado por Ambrósio, Agostinho converteu-se ao cristianismo, em 386. Foi bipo de Hipona. Entre suas obras mais importantes estão:
* A Cidade de Deus;
*Confissões e;
* Trindade.

quinta-feira, 18 de março de 2010

A concepção platônica de cidade ideal.





Perceba que Platão identifica no ser humano três tipos de alma (racional, irascível e concupiscente) e cada uma delas corresponde a uma parte do corpo. As três almas são importantes, assim como as três partes do corpo que formam o todo. Entretanto, o ser humano não deve ser dominado pelas almas irascível e concupiscente, ou seja, ele não pode ser movido apenas pela "força-violência" ou pela "paixão-desejo". Essas duas almas devem estar sob o controle da razão, a mais nobre das três, por que é a única capaz de manter o bom funcionamento do todo (imagine se fôssemos guiados apenas por nossos sentimentos e desejos).

Com relação a uma cidade, segundo Platão, o funcionamento não pode ser diferente. Na cidade, os equivalentes à três almas humanas são a classe dos dirigentes (racional), a classe dos militares (irascível) e a classe dos produtores (concupiscente). Essa é a divisão da "cidade ideal" pensada e defendida por Platão. Nela, o governo não pode estar nas mãos de todos, porque as pessoas devem ser separadas de acordo com as suas funções na sociedade. O comando deve estar nas mãos daqueles que estão mais próximos da razão. Associando com o Mito da Caverna, a ideia é a de que o governante só pode ser aquele que consegue abandonar o mundo das sombras e chegar à luz verdadeira, ou seja, abandonar o mundo sensível e abraçar o mundo inteligível. Em outras palavras, o governante deve ser um filósofo.

Observe que, segundo Platão, cada grupo social deve se dedicar somente à sua função e virtude específicas, pois é apenas quando isso acontece que a harmonia e a felicidade imperam sobre a sociedade. Mesmo se tratando de um modelo utópico de cidade, é importante percebermos a preocupação de Platão com a justiça, isto é, com um valor ético imprescindível para a existência de sociedade. E a justiça, aqui, deve ser entendida em duas situações: a primeira manifestada no equilíbrio entre os três grupos sociais (cada um cumprindo sua parte), e a segunda manifestada no reconhecimento de que apenas aqueles que alcançam o pleno conhecimento são capazes de conhecer a essência da justiça e, por isso, podem governar.

Não podemos estranhar que alguns filósofos considerem a filosofia política de Platão como um incentivo a governos totalitários ou fechados em torno de poucas pessoas. Contudo, é fundamental entendermos o pensamento político platônico em seu contexto de desenvolvimento, e não com a visão de mundo que temos hoje. Ao longo de sua vida, Platão alterou alguns aspectos do seu modelo político, mas sempre manteve a ideia de que a razão é que deveria governar, sendo a única capaz de proporcionar aos cidadãos a justiça e a felicidade.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Platão e a Política.

Platão foi um discípulo de Sócrates e ambos eram cidadãos de Atenas. Enquanto cidadãos ateniense, o que se esperava dos dois é que participassem ativamente do governo da cidade, ou seja, uma de suas atribuições era a participação na política. Mas lembre-se de que foi essa mesma Assembléia, da qual eles faziam parte, que condenou Sócrates à morte, depois de ele ter sido acusado de negar os deuses e corromper a juventude com seus ensinamentos. à época da morte de Sócrates, em 399 a. C., Platão contava com 29 anos de idae e era um dos principais seguidores da ideias defendidas por seu mestre.
o julgamento de Sócrates (descrito por Platão em seu livro A apologia de Sócrates) e sua posterior condenação marcaram profundamente o pensamento de Platão acerca da política. Ele passou a desacreditar da democracia. Mas, é claro, não foi esse o único fator que fundamentou a filosofia política platônica. Na verdade, o pensamento político de Platão é um desenvolvimento de sua teoria do conhecimento.
Você deve ser lembrar de que Platãofaz distinção entre o mundo sensível, percebido pelos sentido, e o mundo inteligível, percebido pelas ideias - e, por isso, também chamado de mundo das ideias. A bem da verdade, essa distinção se processa no próprio ser humano, sendo o corpo o responsável pelo mundo sensível, enquanto a alma é a responsável pelo mundo das ideias. E não se esqueça de que para esse filósofo ateniense, fundador da Academia, o verdadeiro conhecimento sobre as coisas só pode ser alcançado no mundo das ideias, enquanto que no mundo sensível o máximo que podemos apreender são as imagens distorciadas das coisas (lembra as sombras na caverna?) Há uma coisa a ser esclarecida. A ideia de alma de Platão nada tem a ver com espiritualidade, religião. Trata-se, na verdade, da razão humana.
Em seu diálogo chamado A Repúblia, Platão descreve o Mito da Caverna, por meio do qual ele exemplifica a distinção que faz entre os dois mundos. Nessa mesma obra, ele escreve algumas de suas principais concepções sobre política.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Exemplo de Absolutismo

Luís XIV. Nem sempre o poder político esteve nas mãos do povo. Durante a Idade Moderna (1453-1789), a Europa foi governada por reis absolutistas que tomavam todas as decisões em nome de seus súditos. Luis XIV, que governou a França de 1643 a 1715, resume bem o que foi absolutismo monárquico. É atribuída a ele a frase "o Estado sou eu", num exemplo típico de personalização do poder político. Contudo, devemos ressaltar que os reis eram vistos como pessoas capazes de cuidar dos interesses da nação, ou seja, eles eram os representantes do povo.
No século XVIII, com a ampliação da defesa de princípios como "liberdade" e "igualdade" feita pelos filósofos iluministas, as monarquias absolutas deram lugar a governos exercidos com maior participação da população.

Poder, política e Estado

As palavras poder e política são comumente consideradas como sinônimos, especialmente para quem considera a política uma atividade desnecessária ou mesmo prejudicial. Essas palavras podem até estar relacionadas, mas não são necessariamente semelhantes. Daí a importância de as esclarecermos em separado, para que possamos entendê-las em conjunto.
Poder, em seu significado maior, é a capacidade de agir, de produzir efeitos, tanto entre seres humanos como em relação aos fenômenos naturais. Ao tratar do poder no seu aspecto social, ou seja, na relação entre o homem e a sociedade, essa atividade é marcada não só pela capacidade de agir, mas também pelo fato de o homem determinar o comportamento de outros homens, tendo como princípio maior o uso da violência física – a força. O poder social faz com que o homem não seja só sujeito, mas também objeto deste poder. Quando um governo determina leis, ele está exercendo um poder social. O poder político, portanto, é uma forma de poder social. Basicamente, é aquele poder exercido pelo Estado sobre a sociedade. Por Estado devemos entender o conjunto das instituições por meio das quais se exerce o governo.
De acordo com o sociólogo alemão Max Weber, o Estado é o detentor do monopólio legítimo da força, especialmente porque controla a polícia e as Forças Armadas.
Podemos perceber a necessidade do máximo de aproximação entre a população e seu governo, de tal maneira que o segundo não possa "abusar" da força e do poder que possui em relação à primeira. Somente pela força, o poder político não é capaz de se manter. É necessário que este poder se legitime, ou seja, é necessário que ele tenha o apoio da maioria das pessoas que vivem sob ele. Daí a necessidade de o Estado não estar distante da realidade das pessoas comuns, mas sim de fazer-se porta-voz dos interesses dessas pessoas. Esse é um instrumento vital para a manutenção e o exercício do poder político.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Textos para Refletir.

(...) ninguém pode se considerar apolítico – indiferente à política –, sob pena de essa pretensa neutralidade justificar a política vigente. O indivíduo despolitizado compreende mal o mundo em que vive e é facilmente manobrado por aqueles que detêm o poder.
Se admitirmos que a política é uma dimensão importante da nossa vida, é preciso reconhecer a necessidade da educação efetiva para melhor compreender a vida pública. Essa aprendizagem é a condição para o exercício da cidadania consciente e ativa, para pressionar o governo ou atuar por conta própria na sociedade civil, nas áreas em que for necessário, ampliando as possibilidades da gestão democrática.
(Aranha e Martins. Temas de Filosofia, p. 262).
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O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida , o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
(Bertolt Brecht, citado em SOUZA, S.M.R. Um outro olhar: Filosofia, p. 154).

As origens da filosofia política.

A filosofia trata de várias questões, como o conhecimento, a ética e até mesmo o desenvolvimento da ciência. Agora chegou o momento de tratarmos da política. Nesse capítulo, estudaremos o que é política, além das principais concepções políticas desenvolvidas pelos gregos antigos. Trata-se de um ponto de partida para compreendermos melhor essa "atividade", que tem muito mais a ver com o nosso dia-a-dia do que podemos supor.

1. Significado da política.
Geralmente, a palavra "política" é empregada fora do seu significado maior. É comum ouvirmos expressões do tipo "a política da empresa é ...", ou "a política do hospital é ...", ou, ainda, "a política do sindicato é...". Nesses exemplos, a atividade política aparece desvinculada da idéia de governo, pelo menos daquele tipo de governo que deve ser voltado para o público, e não para o privado. Contudo, há uma outra concepção de política bastante difundida entre as pessoas no cotidiano: aquela que afirma ser a política uma atividade para os profissionais dessa área, ou seja, os políticos. Junto dessa concepção está a idéia equivocada de que não temos nada a ver com a política, pois ela é "coisa de político". Nesse caso, o princípio de governo aparece como uma coisa distante das pessoas comuns. Mas, afinal, o que é a política?
Para entendermos melhor a política, é aconselhável verificar o significado etimológico dessa palavra. Política é uma palavra grega que significa "a arte de viver na polis". Assim, política pode ser interpretada como uma atuação dos seres humanos no sentido de dirigir ou governar a sua cidade, isto é, o bem público. Mas governar a cidade não significa atribuir esse compromisso a alguns poucos, e sim à participação de todos nesse processo. Isso está relacionado com o princípio de cidadania, ou seja, o morador (cidadão) participa das decisões tomadas para o funcionamento da cidade. Há outros dois conceitos que aparecem relacionados à participação do cidadão na gestão de sua cidade: a isonomia (igualdade de todos perante a lei) e a isegoria (direito de expor suas opiniões sobre aquilo que acredita ser benéfico para a cidade).
A idéia de política descrita acima alcançou seu desenvolvimento na cidade-Estado de Atenas, especialmente durante o século V a.C., quando prevaleceu a democracia como forma de governo. Os filósofos Sócrates e Platão foram cidadãos atenienses mais ou menos nessa época e, por isso, desenvolveram importantes reflexões políticas. Aristóteles, natural de Estagira, viveu boa parte da sua vida em Atenas, pois foi um dos principais discípulos de Platão, conforme já estudamos. A filosofia política aristotélica configura um dos primeiros tratados sobre esse assunto.
Mas não podemos perder de vista que a democracia ateniense não incluía as mulheres, os estrangeiros e os escravos. A inovação ateniense consistiu no fato de não entregar o poder de governar a cidade para um rei e muito menos garantir a hereditariedade desse poder para os seus descendentes. Apesar da visão restrita sobre cidadania (apenas 10% da população ateniense era considerada cidadã, ou seja, os homens adultos atenienses), a possibilidade de várias pessoas, reunidas em Assembléia, decidirem os destinos da cidade superou em muito a forma monárquica de governar dos reinos orientais antigos.
Trazendo essa discussão para a atualidade, chegamos ao conceito de democracia moderna, cuja formulação recebeu importante influência do filósofo John Locke – fundador do liberalismo político, um dos inspiradores do Iluminismo, no século XVIII –, e dos filósofos iluministas Barão de Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau, entre outros. Nessa concepção de democracia, a participação política deve ser direta, isto é, todos participam das decisões que envolvem seu país, ou pode ser indireta, quando, por meio do voto, todos têm o direito de escolher representantes para tomar essas decisões por nós. Em ambos os casos, a participação de todos é fundamental para o bom funcionamento da "cidade", que aqui é ampliada para a idéia de país. Em suma, exercer a cidadania é reconhecer os direitos e deveres, o que implica participar ativamente da política, seja diretamente, seja cobrando de nossos representantes uma boa atuação. Viu como a política tem mais a ver com o seu dia-a-dia do que você imagina? Aristóteles já dizia: "o homem é um animal político".
Dessa maneira, mesmo quando nos recusamos a participar da política, ainda assim estamos participando dela, porque, ao nos abstermos do nosso direito e nosso dever com o país no qual vivemos, estamos transferindo essa responsabilidade para aqueles que se interessam pela política.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Etimologia da palavra filosofia.

A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio.
Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.
Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando­se filósofos.
Para Pitágoras o filósofo não é movido por interesses comerciais – não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir – não faz das idéias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores ou “atletas intelectuais”; mas é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida; em resumo, pelo desejo de saber.