quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

As origens da filosofia política.

A filosofia trata de várias questões, como o conhecimento, a ética e até mesmo o desenvolvimento da ciência. Agora chegou o momento de tratarmos da política. Nesse capítulo, estudaremos o que é política, além das principais concepções políticas desenvolvidas pelos gregos antigos. Trata-se de um ponto de partida para compreendermos melhor essa "atividade", que tem muito mais a ver com o nosso dia-a-dia do que podemos supor.

1. Significado da política.
Geralmente, a palavra "política" é empregada fora do seu significado maior. É comum ouvirmos expressões do tipo "a política da empresa é ...", ou "a política do hospital é ...", ou, ainda, "a política do sindicato é...". Nesses exemplos, a atividade política aparece desvinculada da idéia de governo, pelo menos daquele tipo de governo que deve ser voltado para o público, e não para o privado. Contudo, há uma outra concepção de política bastante difundida entre as pessoas no cotidiano: aquela que afirma ser a política uma atividade para os profissionais dessa área, ou seja, os políticos. Junto dessa concepção está a idéia equivocada de que não temos nada a ver com a política, pois ela é "coisa de político". Nesse caso, o princípio de governo aparece como uma coisa distante das pessoas comuns. Mas, afinal, o que é a política?
Para entendermos melhor a política, é aconselhável verificar o significado etimológico dessa palavra. Política é uma palavra grega que significa "a arte de viver na polis". Assim, política pode ser interpretada como uma atuação dos seres humanos no sentido de dirigir ou governar a sua cidade, isto é, o bem público. Mas governar a cidade não significa atribuir esse compromisso a alguns poucos, e sim à participação de todos nesse processo. Isso está relacionado com o princípio de cidadania, ou seja, o morador (cidadão) participa das decisões tomadas para o funcionamento da cidade. Há outros dois conceitos que aparecem relacionados à participação do cidadão na gestão de sua cidade: a isonomia (igualdade de todos perante a lei) e a isegoria (direito de expor suas opiniões sobre aquilo que acredita ser benéfico para a cidade).
A idéia de política descrita acima alcançou seu desenvolvimento na cidade-Estado de Atenas, especialmente durante o século V a.C., quando prevaleceu a democracia como forma de governo. Os filósofos Sócrates e Platão foram cidadãos atenienses mais ou menos nessa época e, por isso, desenvolveram importantes reflexões políticas. Aristóteles, natural de Estagira, viveu boa parte da sua vida em Atenas, pois foi um dos principais discípulos de Platão, conforme já estudamos. A filosofia política aristotélica configura um dos primeiros tratados sobre esse assunto.
Mas não podemos perder de vista que a democracia ateniense não incluía as mulheres, os estrangeiros e os escravos. A inovação ateniense consistiu no fato de não entregar o poder de governar a cidade para um rei e muito menos garantir a hereditariedade desse poder para os seus descendentes. Apesar da visão restrita sobre cidadania (apenas 10% da população ateniense era considerada cidadã, ou seja, os homens adultos atenienses), a possibilidade de várias pessoas, reunidas em Assembléia, decidirem os destinos da cidade superou em muito a forma monárquica de governar dos reinos orientais antigos.
Trazendo essa discussão para a atualidade, chegamos ao conceito de democracia moderna, cuja formulação recebeu importante influência do filósofo John Locke – fundador do liberalismo político, um dos inspiradores do Iluminismo, no século XVIII –, e dos filósofos iluministas Barão de Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau, entre outros. Nessa concepção de democracia, a participação política deve ser direta, isto é, todos participam das decisões que envolvem seu país, ou pode ser indireta, quando, por meio do voto, todos têm o direito de escolher representantes para tomar essas decisões por nós. Em ambos os casos, a participação de todos é fundamental para o bom funcionamento da "cidade", que aqui é ampliada para a idéia de país. Em suma, exercer a cidadania é reconhecer os direitos e deveres, o que implica participar ativamente da política, seja diretamente, seja cobrando de nossos representantes uma boa atuação. Viu como a política tem mais a ver com o seu dia-a-dia do que você imagina? Aristóteles já dizia: "o homem é um animal político".
Dessa maneira, mesmo quando nos recusamos a participar da política, ainda assim estamos participando dela, porque, ao nos abstermos do nosso direito e nosso dever com o país no qual vivemos, estamos transferindo essa responsabilidade para aqueles que se interessam pela política.

Um comentário:

  1. Queridos alunos, leiam e releiam este texto para que venhamos debate-lo em sala na próxima aula.

    ResponderExcluir