René Descartes nasceu em 1596, em La Haye, na região de Touraine, França. Viajou pela Europa em busca da "verdade", pois não a havia encontrado nos seus estudos. Lutou na Guerra dos Trinta Anos. Conheceu a Física de Copérnico. Dedicou-se ao estudo da Filosofia. Esse estudo tinha como objetivo, entre outros, conciliar as novas discussões de seu tempo com as verdades reveladas pelo cristianismo.
Faleceu em 1650, na Corte da rainha Cristina, da Suécia, vítima de pneumonia. Entre os seus escritos mais famosos, destacamos: O discurso do método, Meditações metafísicas e Os princípios da Filosofia.
A filosofia de Descartes segue a mesma proposta de Sócrates e Platão, ou seja, ter a razão como instrumento fundamental de conhecimento. E, assim como Aristóteles, buscou elaborar um sistema filosófico para responder às grandes questões filosóficas. Porém, aqui, restringiremos nossa atenção à forma como Descartes tratou a questão do conhecimento.
Segundo Descartes, se quando sonhamos temos a sensação de que estamos vivendo um mundo real, o que nos garante que o mundo não seja também um sonho? Será que existe um "gênio maligno" (expressão criada pelo próprio Descartes) que me engana o tempo todo? Essa dúvida levantada por ele tinha como finalidade mostrar que para se ter o verdadeiro conhecimento de alguma coisa é necessário que sejam eliminadas todas as dúvidas possíveis a respeito daquilo que se pretende conhecer. Em outras palavras: a dúvida serve como método para o sujeito que pretende conhecer determinado objeto. Entretanto, a dúvida cartesiana não é a mesma dos céticos gregos (o cético pode ser entendido como aquele que não acredita em nada); para Descartes, a dúvida deve ser empreendida enquanto método e por isso a chamamos de "dúvida metódica".
Prossigamos. Se de fato podemos duvidar de tudo, isso já é um fato em si e, se podemos duvidar, isso implica em um outro fato: o que nos permite duvidar? A resposta é simples: duvidamos porque temos a capacidade de pensar! Concluindo, se pensamos é porque existimos. Daí o famoso princípio cartesiano: "Penso, logo existo" (em latim, Cogito, ergo sum. À época de Descartes, os tratados filosóficos e científicos eram escritos em latim, língua oficial da Igreja Católica). A dúvida sistemática me permite encontrar a primeira e inquestionável grande certeza: existo porque sou antes de tudo uma coisa pensante. Dessa maneira, Descartes retoma a importância da razão como fonte primeira do conhecimento verdadeiro. Um ser que pensa tem uma compreensão real. Veja que Descartes tem muita semelhança com Platão, que considerava mais seguro conhecermos através da razão do que com os sentidos. Contudo, a diferença fundamental entre os dois reside na questão do método.
As idéias produzidas pela razão são chamadas por Descartes de idéias claras e distintas. Elas correspondem a verdades inquestionáveis e são inatas, ou seja, já nascemos com elas. Mas de onde vêm essas idéias?
A resposta está na existência ou não de Deus. Descartes preocupou-se com essa questão e, para ele, a existência divina era evidente, visto que, se pensamos em Deus é porque ele existe, já que nada daquilo em que pensamos é inexistente, pois pensar é sinônimo de existir. Mas ainda fica uma pergunta: quem nos deu a capacidade de pensar? Ser alguma coisa que pensa ainda não confere verdade ao corpo ou ao mundo, pois "nada sou senão uma coisa que pensa, isto é, um espírito, um entendimento ou uma razão". E é aqui que entra a idéia de Deus.
Essa idéia não poderia vir da razão (do cogito), pois "eu não teria a idéia de uma substância infinita se ela não tivesse sido colocada em mim por alguma substância que fosse verdadeiramente infinita". Essa substância verdadeiramente infinita, no caso, é Deus. E se Deus me deu a capacidade de pensar, então ele não pode ser o "gênio maligno", ou seja, a idéia da imperfeição ou da inverdade, ou ainda da dúvida. Assim, Descartes defende a existência de Deus e nega a existência do "gênio maligno", dissipando então todas as outras dúvidas, pois a existência real do cogito é assegurada pela existência de Deus. Colocando com outras palavras: Deus existe e é ele que nos dá a capacidade de pensar, com a qual podemos enxergar a verdade do mundo e das coisas que nos cercam, além de nós mesmos. É por meio da razão que encontramos todas as verdades incontestáveis, inclusive a da nossa própria existência corpórea.