quinta-feira, 18 de março de 2010

A concepção platônica de cidade ideal.





Perceba que Platão identifica no ser humano três tipos de alma (racional, irascível e concupiscente) e cada uma delas corresponde a uma parte do corpo. As três almas são importantes, assim como as três partes do corpo que formam o todo. Entretanto, o ser humano não deve ser dominado pelas almas irascível e concupiscente, ou seja, ele não pode ser movido apenas pela "força-violência" ou pela "paixão-desejo". Essas duas almas devem estar sob o controle da razão, a mais nobre das três, por que é a única capaz de manter o bom funcionamento do todo (imagine se fôssemos guiados apenas por nossos sentimentos e desejos).

Com relação a uma cidade, segundo Platão, o funcionamento não pode ser diferente. Na cidade, os equivalentes à três almas humanas são a classe dos dirigentes (racional), a classe dos militares (irascível) e a classe dos produtores (concupiscente). Essa é a divisão da "cidade ideal" pensada e defendida por Platão. Nela, o governo não pode estar nas mãos de todos, porque as pessoas devem ser separadas de acordo com as suas funções na sociedade. O comando deve estar nas mãos daqueles que estão mais próximos da razão. Associando com o Mito da Caverna, a ideia é a de que o governante só pode ser aquele que consegue abandonar o mundo das sombras e chegar à luz verdadeira, ou seja, abandonar o mundo sensível e abraçar o mundo inteligível. Em outras palavras, o governante deve ser um filósofo.

Observe que, segundo Platão, cada grupo social deve se dedicar somente à sua função e virtude específicas, pois é apenas quando isso acontece que a harmonia e a felicidade imperam sobre a sociedade. Mesmo se tratando de um modelo utópico de cidade, é importante percebermos a preocupação de Platão com a justiça, isto é, com um valor ético imprescindível para a existência de sociedade. E a justiça, aqui, deve ser entendida em duas situações: a primeira manifestada no equilíbrio entre os três grupos sociais (cada um cumprindo sua parte), e a segunda manifestada no reconhecimento de que apenas aqueles que alcançam o pleno conhecimento são capazes de conhecer a essência da justiça e, por isso, podem governar.

Não podemos estranhar que alguns filósofos considerem a filosofia política de Platão como um incentivo a governos totalitários ou fechados em torno de poucas pessoas. Contudo, é fundamental entendermos o pensamento político platônico em seu contexto de desenvolvimento, e não com a visão de mundo que temos hoje. Ao longo de sua vida, Platão alterou alguns aspectos do seu modelo político, mas sempre manteve a ideia de que a razão é que deveria governar, sendo a única capaz de proporcionar aos cidadãos a justiça e a felicidade.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Platão e a Política.

Platão foi um discípulo de Sócrates e ambos eram cidadãos de Atenas. Enquanto cidadãos ateniense, o que se esperava dos dois é que participassem ativamente do governo da cidade, ou seja, uma de suas atribuições era a participação na política. Mas lembre-se de que foi essa mesma Assembléia, da qual eles faziam parte, que condenou Sócrates à morte, depois de ele ter sido acusado de negar os deuses e corromper a juventude com seus ensinamentos. à época da morte de Sócrates, em 399 a. C., Platão contava com 29 anos de idae e era um dos principais seguidores da ideias defendidas por seu mestre.
o julgamento de Sócrates (descrito por Platão em seu livro A apologia de Sócrates) e sua posterior condenação marcaram profundamente o pensamento de Platão acerca da política. Ele passou a desacreditar da democracia. Mas, é claro, não foi esse o único fator que fundamentou a filosofia política platônica. Na verdade, o pensamento político de Platão é um desenvolvimento de sua teoria do conhecimento.
Você deve ser lembrar de que Platãofaz distinção entre o mundo sensível, percebido pelos sentido, e o mundo inteligível, percebido pelas ideias - e, por isso, também chamado de mundo das ideias. A bem da verdade, essa distinção se processa no próprio ser humano, sendo o corpo o responsável pelo mundo sensível, enquanto a alma é a responsável pelo mundo das ideias. E não se esqueça de que para esse filósofo ateniense, fundador da Academia, o verdadeiro conhecimento sobre as coisas só pode ser alcançado no mundo das ideias, enquanto que no mundo sensível o máximo que podemos apreender são as imagens distorciadas das coisas (lembra as sombras na caverna?) Há uma coisa a ser esclarecida. A ideia de alma de Platão nada tem a ver com espiritualidade, religião. Trata-se, na verdade, da razão humana.
Em seu diálogo chamado A Repúblia, Platão descreve o Mito da Caverna, por meio do qual ele exemplifica a distinção que faz entre os dois mundos. Nessa mesma obra, ele escreve algumas de suas principais concepções sobre política.